O suicídio é um assunto delicado e muitas vezes evitado na sociedade, especialmente entre os evangélicos. Késia Mesquita, uma pregadora evangélica do Piauí, confrontou essa realidade após sua irmã, Débora, tirar a própria vida. Em resposta à tragédia pessoal e familiar, Késia criou um centro de prevenção ao suicídio em homenagem à irmã e começou a percorrer o Brasil, para discutir saúde mental em igrejas evangélicas.
A trajetória dela foi destaque em reportagem em vários sites e portais em todo o Brasil. A BBC News Brasil deu um destaque importante para o tema e para o trabalho de desenvolvido por Késia Mesquita. Nós fizemos uma síntese para mostrar o esforço da pregadora piauiense sobre esse um assunto tão sensível porém real e que merece uma abordagem na mídia, na igreja, na academia e na família.
Embora algumas igrejas evangélicas ainda vejam o suicídio como um pecado, Késia observa um aumento no reconhecimento da importância de abordar o tema por parte dos líderes religiosos. No entanto, o tabu persiste em algumas denominações, como a Congregação Cristã no Brasil, que se recusa a realizar funerais para aqueles que tiram a própria vida.
A questão do suicídio também suscita preocupações sobre saúde mental e o papel da religião. Embora para alguns a espiritualidade possa oferecer suporte, para outros pode representar um fator de risco, especialmente se levar à vergonha e à exclusão. Além disso, comentários preconceituosos por parte da comunidade religiosa podem aumentar a dor e a culpa daqueles enlutados pelo suicídio.
Késia lembra que, durante o culto fúnebre, um pastor fez uma fala indelicada.
“Ele praticamente disse que o filho havia passado por situações emocionais graves, mas que eles [familiares] haviam orado. Então, deu a entender que não tínhamos feito nossa parte como pessoas que creem Deus.”
Késia diz que sentiu muita raiva naquele momento e pediu que tirassem o microfone das mãos do pastor.
Hoje, ela consegue ver com “uma certa compaixão e misericórdia” a situação, por entender que o pastor não estava preparado para aquilo.
“As pessoas não foram ensinadas a lidar com esse tipo de morte. As pessoas, na verdade, não são preparadas nem para lidar com a própria morte”, aponta.
Como as igrejas evangélicas veem a questão do suicídio?
A posição das grandes igrejas evangélicas sobre o suicídio é enraizada na interpretação religiosa dos ensinamentos da Bíblia. A Assembleia de Deus, os batistas e a Congregação Cristã no Brasil consideram o suicídio como um pecado, baseando-se no mandamento “Não matarás” e em passagens bíblicas que mencionam casos de suicídio. Essa visão é compartilhada por outras denominações evangélicas, que acreditam que apenas Deus tem o direito de dar e tirar a vida.
No entanto, há nuances nas abordagens dessas igrejas. Os batistas, por exemplo, não têm relatos de recusa em realizar funerais para suicidas, enquanto na Assembleia de Deus, embora não haja documentos oficiais sobre o assunto, alguns pastores podem optar por não realizar esses serviços. Já a Congregação Cristã no Brasil tem como regra não realizar funerais para suicidas, uma prática que é vista como uma expressão da crença de que o suicídio é um pecado imperdoável.
Essas posições levantam questões sobre o papel da religião na saúde mental. Embora a espiritualidade possa servir como um apoio para muitas pessoas, para outras, especialmente quando associada a sentimentos de vergonha e exclusão, pode representar um fator de risco para o suicídio. Frases preconceituosas proferidas por membros da comunidade religiosa podem aumentar o sofrimento dos enlutados e dificultar sua busca por ajuda profissional.
Diante do aumento dos casos de suicídio no Brasil, é fundamental que as igrejas evangélicas e outras instituições religiosas reconheçam a necessidade de abordar o tema com sensibilidade e empatia. Os líderes religiosos devem estar cientes de suas limitações na área da saúde mental e encorajar seus membros a procurar ajuda profissional quando necessário. Promover um ambiente acolhedor e livre de julgamentos é essencial para apoiar aqueles que lutam contra o suicídio e aqueles que foram afetados por ele.
Diante dessa complexidade, é crucial oferecer apoio e compreensão às pessoas afetadas pelo suicídio, reconhecendo a singularidade de cada situação e a necessidade de uma abordagem sensível e empática.
Redação Move Notícias