Presidente venezuelano limpa o terreno para reeleger-se, impedindo os principais adversários de concorrerem às eleições.
A Venezuela segue o roteiro da Nicarágua, ao inabilitar candidatos da oposição para ocupar cargos públicos e impedi-los de enfrentar Nicolás Maduro nas eleições do próximo ano.
Conhecida como “dama de ferro”, a ex-deputada María Corina Machado desponta nas pesquisas como favorita nas primárias de outubro, mas foi alvo da decisão da Controladoria Geral da República, que a tornou inelegível por 15 anos.
Desta forma, o regime de Maduro limpa o terreno de adversários, para consolidar-se no pleito, assim como fez o ditador Daniel Ortega: prendeu todos que o ameaçavam nas urnas e concorreu praticamente sozinho nas eleições de 2021, conquistando o quarto mandato na Nicarágua.
Outros pré-candidatos populares comungam da mesma sina de María Corina, do Vem Venezuela.
O ex-governador Henrique Capriles, que concorreu duas vezes contra o chavismo, está inabilitado desde 2017, assim como Freddy Superlano, do partido Vontade Popular. Juan Guaidó, Leopoldo López e Antonio Ledezma estão entre os que fugiram do país.
Contra todos pesam supostas acusações de irregularidades e corrupção, parecidas com as que Ortega dizimou seus opositores, tornando-os apátridas e confiscando seus bens após ser reeleito.
Considerada uma das mais radicais adversárias do chavismo, María Corina Machado, de 55 anos, vem arrastando multidões em seus comícios, e desafiou a decisão do regime. “Uma desqualificação inútil que apenas mostra que o regime sabe que já está derrotado.
Agora, vamos votar com mais força, mais rebeldia e mais vontade nas primárias. Aqui, quem viabiliza é o povo da Venezuela. Até o fim é até o fim”, escreveu em suas redes sociais.
A inabilitação de adversários é usada como arma de regimes autoritários e vai de encontro ao argumento em defesa de Maduro, citado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, de que há uma narrativa contra a Venezuela.
Em entrevista à Rádio Gaúcha, na semana passada, o presidente brasileiro observou que o país vizinho teve mais eleições do que o Brasil e considerou a democracia como um conceito relativo.
Para o cientista político Luís Vicente León, diretor do Instituto Datanalisis, as inabilitações de opositores representam uma violação da democracia e são aplicadas na Venezuela porque o governo controla as instituições. Alfredo Romero, diretor da ONG de direitos humanos Foro Penal, segue este raciocínio:
“Eleições livres e democráticas têm dois componentes essenciais: a liberdade de eleger e a liberdade de ser eleito. Não há eleições democráticas nem liberdade de eleger quando o que controla o poder decide arbitrariamente quem pode postular e quem não pode.”
Sem igualdade de condições nas disputas eleitorais, sem imprensa livre e sem respeito às liberdades individuais, a Venezuela traça a rota inversa dos países que aplicam a democracia.
Prova disso é a decisão do Tribunal Penal Internacional, de reabrir a investigação de supostos crimes contra a Humanidade na Venezuela, por considerar insuficientes os processos investigados pelo sistema judicial nacional.
Fonte: G1