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Publicado em: 23 junho 2024 às 08:34 | Atualizado em: 23 junho 2024 às 08:40

Depressão, insônia, surdez: as doenças que atingem agricultores próximos a parques eólicos

Por Douglas Ferreira

A enercia limpa que vem do vento – Foto: Reprodução

A energia eólica tem se mostrado uma importante fonte de energia renovável no Brasil, especialmente no Nordeste, que se destaca pela sua capacidade de produção devido às condições favoráveis dos ventos. Com mais de 1000 parques eólicos instalados no país, 523 deles estão localizados nesta região, contribuindo significativamente para a geração de energia limpa, com 13% de toda energia elétrica gerada.

O Estado nordestino com o maior número de parques eólicos é o Rio Grande do Norte.

Rio Grande do Norte

  • Parques eólicos: 261
  • Capacidade instalada: Significativa participação na matriz energética eólica do Brasil, destacando-se como o estado com o maior número de parques eólicos do país.

Piauí

  • Parques eólicos: 108
  • Capacidade instalada: 3.583,95 MW
  • Torres aerogeradoras: 1.246
Em muitos Estados há moradores morando próximo às torres de aerogeradores – Foto: Reprodução

Contudo, essa expansão da energia eólica traz consigo desafios e problemas, particularmente relacionados à saúde das pessoas que vivem próximas aos parques eólicos. A síndrome da turbina eólica é uma questão emergente que afeta a qualidade de vida dos moradores ao redor dessas instalações.

Pesquisas realizadas pela Fiocruz e pela Universidade de Pernambuco (UPE) investigam os impactos negativos, como insônia, ansiedade, depressão e perda auditiva, atribuídos ao ruído contínuo das turbinas e ao efeito estroboscópico das sombras das hélices.

Caetés, no Agreste de Pernambuco, é um exemplo significativo dessa problemática. Desde a instalação de dois parques eólicos em 2014, com um total de 220 torres, cerca de 120 famílias de pequenos agricultores relatam consequências adversas em sua saúde e bem-estar.

O barulho constante e o impacto visual das torres têm levado muitos moradores a utilizar medicações para dormir e tratar a ansiedade. Além de provocar divisão nas comunidades e até mesmo a saída forçada de suas terras.

“Você não dorme, não tem aquele prazer de deitar e descansar. Quando cochila, acorda assustado, achando que ela vai cair. Tem hora que parece um apito, cachorro latindo, um avião que nunca decola”, conta Acácio Noronha morador de Caetés.

Quantos mais residem próximo às torres, mais sofrem os problemas da síndrome da turbina eólica – Foto: Reprodução

Edna Pereira, de 44 anos, é uma moradora da comunidade de Sobradinho, em Caetés, que sofre intensamente com o barulho constante dos parques eólicos instalados perto de sua casa.

Para tentar encontrar algum alívio, Edna frequentemente visita a casa de sua filha, que vive fora da comunidade. “Só que fica o barulho delas dentro do meu ouvido. Posso ir para onde eu for, que o barulho fica no meu ouvido. Não sai, não sai”.

Empresas responsáveis pelos parques afirmam estar dentro das normas regulatórias e têm realizado medidas para mitigar os impactos, como investimentos em melhorias acústicas nas residências afetadas. No entanto, essas ações nem sempre são suficientes ou eficazes para resolver os problemas enfrentados pelos moradores.

A questão também envolve aspectos legais e contratuais, com agricultores muitas vezes presos a acordos longos e onerosos com as empresas de energia, dificultando a rescisão ou a renegociação dos termos.

Recentemente, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), anunciou um ambicioso “plano verde”. Este conjunto de investimentos em políticas ambientais tem como objetivo principal promover a sustentabilidade e combater as mudanças climáticas. Um dos focos centrais deste plano é o fortalecimento da energia eólica, um setor que já vem apresentando crescimento significativo no Brasil, especialmente na Região Nordeste.

A expansão da energia eólica, embora necessária e benéfica do ponto de vista ambiental e econômico, precisa considerar e abordar de forma mais eficaz os impactos sociais e de saúde nas comunidades locais. Uma abordagem mais inclusiva e sensível às necessidades dos moradores, aliada a regulamentações mais rígidas e claras sobre a distância mínima entre torres e residências, pode ajudar a mitigar esses efeitos negativos, garantindo que os benefícios da energia renovável não venham à custa do bem-estar humano.