Por Douglas Ferreira com informações RFI
Quem pensou que a perseguição à família do ativista e defensor dos direitos humanos russo, Alexei Navalny, tivesse terminado após seu suposto assassinato, em fevereiro passado, numa prisão na Sibéria, está redondamente enganado. Agora, a esposa do ativista, Yulia Navalnaya, está na mira do Kremlin, com um mandato de prisão emitido contra ela.
A Rússia anunciou nesta terça-feira (9) que emitiu um mandado de prisão à revelia para a opositora exilada Yulia Navalnaya, viúva de Alexei Navalny, que morreu na cadeia em fevereiro. Ela é acusada de “participação em um grupo extremista”.
Yulia Navalnaya, ao aceitar o Prêmio Liberdade de Mídia na Cúpula Ludwig Erhard, na Alemanha, reforçou seu compromisso com a luta de seu marido. O Tribunal de Basmanny, em Moscou, ordenou que Yulia, que vive no exterior, fosse mantida sob custódia à revelia, alegando que ela “escapou da investigação preliminar”.
Yulia prometeu continuar a batalha do marido, que era o principal opositor de Vladimir Putin, após sua morte sob circunstâncias suspeitas numa prisão no Ártico. Com a ordem de prisão, Yulia enfrenta a possibilidade de detenção se retornar à Rússia.
Seguindo os passos de Navalny, Yulia exorta os apoiadores do líder da oposição a manter a esperança e denuncia regularmente as autoridades russas e o tratamento dos dissidentes na Rússia através das redes sociais. Ela declarou que quer continuar a luta pela “bela Rússia do futuro”.
Leonid Volkov, ex-aliado de Alexei Navalny, que também vive exilado, ironizou a decisão do tribunal russo, considerando-a um reconhecimento da determinação de Yulia em continuar a luta de Alexei.
Nos últimos anos, a repressão na Rússia resultou na prisão de quase todos os opositores de destaque ou no seu exílio. Milhares de russos foram presos por protestos ou críticas à ofensiva na Ucrânia, muitos recebendo sentenças severas.
Em uma mensagem aos seus apoiadores, Yulia Navalnaya pediu que se concentrassem na luta contra Vladimir Putin, afirmando: “Vladimir Putin é um assassino e um criminoso de guerra. O lugar dele é na prisão, na mesma colônia penal onde matou Alexei”.
Apesar das negativas do Kremlin sobre qualquer envolvimento na morte de Navalny, Yulia tem se encontrado com líderes internacionais, incluindo o presidente dos EUA, Joe Biden, para discutir o futuro da Rússia e a necessidade de justiça.
O Envenenamento de opositores
Outro caso alarmante envolve Vladimir Kara-Mourza, opositor russo que sobreviveu a duas tentativas de envenenamento e foi condenado a 25 anos de prisão. Recentemente, ele foi internado em um hospital penitenciário, sem acesso aos seus advogados, aumentando as preocupações sobre seu estado de saúde.
Kara-Mourza, cidadão russo-britânico, sofre de polineuropatia após os envenenamentos em 2015 e 2017. A falta de acesso ao hospital e a incerteza sobre sua condição médica refletem a brutalidade do tratamento dispensado aos opositores pelo regime de Putin.
A perseguição contínua a figuras como Yulia Navalnaya e Vladimir Kara-Mourza evidencia a repressão implacável do Kremlin contra qualquer forma de dissidência, destacando os desafios enfrentados pelos defensores da liberdade e democracia na Rússia.