As histórias de empreendedores de sucesso, responsáveis por abrir empresas desruptivas que mudaram o curso da história – como Apple, Google, Tesla e Facebook, só para ficar nos exemplos mais triviais – costumam inspirar jovens em todo mundo. No Brasil, no entanto, graças à burocracia excessiva, legislações arcaicas e falta de acesso a financiamento, esses exemplos tendem a figurar apenas no olimpo das aspirações. Soma-se a todos esses fatores, uma contradição observada nas universidades brasileiras: ao mesmo tempo que a maioria dos estudantes tem alguma característica empreendedora, apenas uma pequena parte acredita que a universidade é capaz de desenvolver conhecimentos e habilidades suficientes para incentivar a abertura do próprio negócio.
A constatação faz parte de uma pesquisa realizada pela ABMES – Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior -, e parceria com Educa Insights, em todo o Brasil, obtida com exclusividade por VEJA. O levantamento revela que 76% se encaixam em ao menos uma de três condições prévias para o empreendedorismo, que foram categorizadas em três verbos: ser, fazer e sonhar. No sentido contrário, somente 32% acham que a faculdade oferece cursos que estimulem os alunos a colocarem a mão na massa para desenvolver soluções inovadoras para velhos problemas. “Os jovens querem cursos práticos, atraentes e capazes de gerar engajamento. No entanto, as universidades oferecem disciplinas baseadas em um saber enciclopédico e cursos estruturados para serem bem avaliados pelo MEC”, resume Celso Niskier, presidente da ABMES.
A pesquisa também ampliou o conceito de empreendedorismo e traçou quatro diferentes perfis de jovens que podem fazer a diferença: o Tradicional, aquele que quer abrir o próprio negócio e viver uma vida sem patrão, que corresponde a 24% do total; o Criador, que sonha em inventar algo que não existe, encontrado em cerca de 17% do universo pesquisado; o Idealista, que tem a motivação social como principal premissa para o desejo de empreender, presente em 31% da amostra, e o Agilizado, que quer fazer a ideia sair do papel, que tem 28% de pessoas nessa categoria.
Segundo a ABMES, tais perfis sugerem que as universidades poderiam mudar completamente o jeito de passar o conhecimento adiante, oferecendo cursos voltados para a resolução de problemas em um diálogo mais presente entre a realidade e a sociedade e não apenas cumprir uma grade curricular extensa, baseada na acumulação de saberes. “É preciso mudar da infraestrutura física das salas de aula ao papel do professor. A aquisição de conhecimento deve vir da necessidade, isso motiva o engajamento do aluno e proporciona o surgimento de novas ideias”, diz Niskier.
A ideia da entidade é levar ao Ministério da Educação, uma proposta para revisar os curriculos das universidades e deixá-los mais próximos aos praticados nas universidades das nações desenvolvidas. Em países como Alemanha e Estados Unidos, os jovens são estimulados a abrir startups (empresas desruptivas, em estágio inicial) e as universidades funcionam como incubadoras de empresas, dando suporte para novos negócios.
Fonte: Veja