O grupo Brics, composto por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, inicia sua reunião de cúpula nesta terça-feira, 22, em Johanesburgo, na África do Sul. Os temas centrais do encontro envolvem a possibilidade de expansão do grupo para novos membros e estratégias para reduzir a dependência do dólar nas transações comerciais entre os países integrantes.
Além dos líderes dos países membros, mais de 60 chefes de Estado foram convidados para o encontro, incluindo 54 líderes africanos. A lista de candidatos em busca de ingresso no bloco é extensa, com pelo menos 23 países interessados, entre eles Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos, Argentina, Bolívia, Venezuela, Indonésia, Egito, Nigéria, Irã e Belarus.
A China, a segunda maior economia mundial, advoga pela expansão do Brics. Pequim almeja aumentar sua influência global, e um Brics fortalecido poderia contribuir para essa meta. Dessa forma, o grupo ganharia mais poder de contraposição ao G7, que reúne Alemanha, Canadá, Estados Unidos, França, Itália, Japão e Reino Unido.
O termo “Bric”, que remete à palavra “tijolo” em inglês, foi cunhado em 2001 pelo economista Jim O’Neil. A sigla reúne as iniciais de Brasil, Rússia, Índia e China, com a África do Sul posteriormente se juntando. Essas economias emergentes estão entre as maiores do mundo, embora ainda enfrentem desafios compartilhados, como a redução da pobreza. O Brics realizou suas primeiras cúpulas em 2006, adotando posteriormente o termo. Atualmente, o bloco representa cerca de 3,2 bilhões de pessoas.
Com o agravamento das tensões entre China e Estados Unidos, surgem preocupações de que o Brics possa se tornar um bloco com inclinação anti-americana e anti-europeia caso admita países com tal orientação, como Irã e Venezuela.
Xi Jinping, líder chinês, afirmou: “Agora, cada vez mais países batem à porta do Brics, buscando aderir à nossa cooperação. Isso evidencia a vitalidade e influência do mecanismo de cooperação do Brics. A China está pronta para trabalhar com seus parceiros do Brics com espírito de abertura, inclusão e cooperação mutuamente benéfica”, em um artigo divulgado em 21 de agosto.
Inicialmente, o Brasil adotava uma postura contrária à expansão, porém, nos últimos meses, o presidente Lula expressou apoio à ideia, amplamente respaldada pela China. Diplomatas brasileiros estão preocupados com o diluído poder dos atuais membros, incluindo o Brasil, caso o Brics se expanda com a entrada de mais países.
A África do Sul e a Rússia veem a expansão de forma favorável, especialmente devido a seus laços fortes com a China. Em contraste, a Índia tem se manifestado contra a proposta. Durante a reunião de cúpula, que ocorrerá até quarta-feira, 23, poderá ser anunciada a inclusão de novos membros ou a definição de critérios para a admissão futura de integrantes.
O Brics obteve um dos principais resultados práticos com o estabelecimento do Novo Banco de Desenvolvimento – NDB, sediado em Xangai e atualmente presidido por Dilma Rousseff. O NDB oferece empréstimos para financiar projetos nos países membros. Uma das questões em debate é que novos integrantes do Brics também deveriam se associar ao banco, comprometendo-se a contribuir para suas operações. Nos últimos anos, a lista de membros do NDB foi expandida, incluindo os Emirados Árabes Unidos, Egito e Bangladesh, além dos países Brics.
A proposta de criar uma moeda única para o Brics não será debatida oficialmente. Em vez disso, conforme o Financial Times, as conversas girarão em torno de aumentar o uso de moedas locais nas transações entre os membros, em substituição ao dólar. Rússia e China são fortes defensoras da redução da dependência da moeda americana no comércio global. Lula também endossou a ideia de maior utilização de moedas locais, questionando.
Resumindo, mais do que uma frente econômica os Brics representam a união de um bloco alinhado ideologicamente contra o liberalismo. A inclusão de países ‘miseráveis’ como a Venezuela, por exemplo, deixa clara essa pretenção.